Ostra-portuguesa

Crassostrea angulata (Lamarck, 1835)

Em Portugal, existem quatro espécies de ostra, Crassostrea angulata (ostra-portuguesa), Ostrea edulis (ostra-plana), Ostrea stentina (ostra-anã) e Ostrea cochlear. Contudo, devido às suas características, apenas a Ostrea edulis e a Crassostrea angulata são exploradas comercialmente. 

A ostra-portuguesa (Crassostrea angulata) é um molusco bivalve popularmente conhecido como carcanhola, muito semelhante à ostra-do-pacífico.

A distribuição geográfica da ostra-portuguesa está centrada nos estuários e rias desde a zona centro de Portugal continental até à costa de Marrocos, com grande incidência no estuário do Sado.

“A concha é constituída principalmente por carbonato de cálcio, que é retirado directamente da água do mar com auxílio de células especializadas localizadas no manto. São animais de corpo mole, lateralmente comprimidos e compostos de duas válvulas articuladas e um potente músculo adutor. A forma e cor da concha da ostra-portuguesa podem ser um pouco variáveis, devido ao tipo de substrato em que está inserida. As ostras que crescem em substratos moles têm geralmente menos lâminas do que as que se desenvolvem em substratos duros. O seu interior é branco, com uma mancha escura perto da ligação do músculo adutor. O corpo é coberto por um tegumento designado “manto”, que está também envolvido no processo de calcificação da concha. Entre os dois lados deste, encontra-se a cavidade palial, um espaço livre dividido pelas brânquias, onde existe a circulação da água através de um processo inalante e exalante (não existe sifão), do qual se obtém o processo de respiração e alimentação.”*

Estudos genéticos mostram que a ostra-portuguesa é originária da Ásia e foi introduzida na Europa através das trocas de mercadoria de navios no século XVI. Diz-se ainda que as ostras agora denominadas por Portuguesas, foram introduzidas na Europa pelas caravelas Portuguesas regressadas do Oriente.

Segundo alguns historiadores, as ostras, conhecidas como «Les Portugaises», são originárias da Índia ou do Japão, tendo viajado para Portugal nas quilhas das naus e como alimento rico em proteínas para as tripulações, nos finais do século XVI. Chegadas aos estuários do Tejo e do Sado, aí se desenvolveram extraordinariamente devido às boas condições naturais daqueles que viriam a ser considerados os maiores bancos naturais de ostras da Europa.

Mas as ostras, eventualmente de outras espécies, já existiam em Portugal, como prova a presença romana no estuário do Sado e Lisboa, que deixou imensos vestígios de consumo de ostras,  fazendo prova deste molusco pelo menos desde essa época.

De facto Estrabão refere, no século I a.C., recordando um dos momentos da conquista da Lusitânia por Décimo Júnio Bruto, em finais do século II a.C., quando encontra junto ao estuário do Tagus a antiga povoação de Olisipo, provável entreposto de Fenícios e Gregos:

«Nas margens do rio fortificou Olisipo para ter mais livre o curso da navegação e o transporte dos víveres (…) O rio é muito rico em peixe e abundante de ostras» (Estrabão, Livro 30, I Parte).

Conta-se que em 1886 um navio carregado de ostras de Setúbal com destino a Inglaterra foi obrigado por uma tempestade a procurar refúgio no estuário de Gironda, próximo de Pauillac, na costa oeste francesa. A tempestade pode ter sido longa e o comandante do navio, considerando que as ostras já não estariam em condições, decidiu atirá-las à água. Só que nem todas as ostras estavam mortas e nas águas da Girona ricas em fitoplâncton nasceram colónias espontâneas de ostras que se estenderam à Bretanha.

As ostras do Tejo foram largamente exploradas por comerciantes franceses por volta de 1866, que as levavam para Arcachon.

A ostra-portuguesa foi inicialmente descrita por Lamarck como sendo um endemismo da Península Ibérica. Pensava-se que teria sido introduzida na região francesa de Arcachon em 1867 como uma nova espécie para aquicultura e que, devido ao elevado sucesso, se expandira por toda a França e um pouco por toda a Europa. 

Só recentemente é que foram identificadas populações de C. angulata em Taiwan, de onde se pensa que esta será originária. Estudos usando marcadores mitocondriais reportam a presença de populações “puras” desta espécie em Taiwan. Assim é de supor uma origem asiática, que provavelmente é um caso de introdução antropogénica (premeditada ou não) na Europa. 

* in Ostras, um fruto de Setúbal. Valorização gastronómica e cultura alimentar do Sado – José Augusto Pinto de Almeida Dissertação

Ostra cozida ao vapor e cortada longitudinalmente

Anatomia básica de uma ostra

PT