Introdução. Caetobriga: uma cidade fabril e polinucleada na foz do Sado

 Caetobriga. O sítio arqueológico da Casa dos Mosaicos (Setúbal Arqueológica, Vol . 17, 2018), p. 11-42

Joaquina Soares - Carlos Tavares da Silva

 Introdução

Até às intervenções de arqueologia urbana desenvolvidas pelo Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS), no âmbito do projecto de investigação sobre as preexistências de Setúbal, a partir de meados dos anos 70 do século XX, o paradigma dominante situava Caetobriga em Tróia. As ruinas de uma cidade antiga na margem esquerda da foz do Sado, que André de Resende (1593) visitou e muito provavelmente baptizou de Tróia no ambiente renascentista da segunda metade de quinhentos (quiçá por inspiração dos textos homéricos), seriam igualmente motivação, em pleno Romantismo, para a fundação, em Setúbal, da Sociedade Archeologica Lusitana com o propósito da escavação e estudo daquela jazida e da criação de museu monográfico.

 De entre o numeroso espólio móvel que foi sendo exumado das “ruínas” de Tróia, durante as escavações antigas, reproduzimos aqui a ânfora Dressel 14 publicada por Gama Xaro em 1860, no Archivo Pittoresco (Fig. 1) e a taça de prata então depositada na residência do duque de Palmela (Fig. 2), publicada no vol. I dos Annaes da Sociedade Archeologica Lusitana, p. 4-8, a que foi atribuída significado religioso, face à presença de decoração relevada com figuras mitológicas “vermiculadas de ouro” (SAL, 1851, p. 19), em que se destacam elementos marinhos e o tridente associado a Neptuno. Teria pertencido ao conteúdo de “um pequeno caixão de chumbo” posto a descoberto pela erosão fluvial no inverno de 1814.

 “Na margem esquerda do Sadão, e não longe da foz do mesmo, jazem dispersas as ruinas de uma cidade, que os antiquários suppõem ser a antiga Cetobriga. Não é possível andar por entre aquellas ruinas; achar alli com pasmosa facilidade moedas romanas; vêr na extensão de quasi uma legoa os destroços dos edifícios; encontrar agora fragmentos de amphoras; logo lâmpadas de barro; aqui troços de marmore; acolá vasos de diferentes feitios; não é possível, dizemos nós, vêr, examinar e estudar tudo isto, sem que ao mesmo tempo se sinta nascer e crescer na alma um sentimento de curiosidade, um desejo intenso de explorar estas ruinas, e investigar a causa que as produziu, visto que os livros sómente nos dizem que por alli existira uma cidade, que tinha o nome de Cetobriga. 

“Como desapareceria Cetobriga? Cairia por decadência do commercio e abandono sucessivo? 

 “Que lição nos estão dando suas ruinas? Attestarão os efeitos da guerra? Estarão alli como exemplo da punição de grandes erros? Quem o sabe?! Seria talvez um cataclismo, uma irrupção violenta do mar, um terremoto que subvertesse a cidade? Estarão alli sepultadas as riquezas de seus habitantes? Por que se não ha de fazer alli uma excavação? Oh! as ruinas são sempre uma página sublime do grande livro da Humanidade! Mal haja quem as não estuda, quem as não compreende, quem compreendendo-as não aproveita suas lições!”

SAL, 1850, p. 2-3

Introdução

Os achados romanos da área urbana de Setúbal (Fig. 3) identificados por José Marques da Costa, em 1957 (Costa, 1960), ao longo de cerca de 700m da margem direita da baía, não lograram alterar aquele paradigma. O achado mais notável, e com maior impacto na opinião pública, dessa extensa visitação ao subsolo arqueológico de Setúbal, ocorreu na Rua Fran Paxeco (antiga Rua Direita de Tróino) e consistiu em: ânfora fragmentada e não recuperada com um tesouro monetário de que foi possível recolher 11091 numismas, depositados no Museu do Convento de Jesus; ânfora completa (Fig. 3C) da forma Beltran 65A (Coelho-Soares & Tavares da Silva, 1978), contendo um tesouro de 7091 moedas do século IV d. C., depositado no mesmo museu. As 18181 moedas recuperadas foram estudadas e publicadas em 1975 pelo coronel J. A. de Carvalho Fernandes, que concluiu serem todas de bronze (médios e pequenos bronzes) e, com raras excepções, respeitarem à “Casa de Constantino Magno e Sucessores”. Exceptuando um exemplar de 187 a 155 d. C., os restantes numismas foram cunhados entre 253 e 363 d. C. Estes achados numismáticos apontam, como outros indicadores arqueológicos, para a crise e insegurança que se instalou, na Setúbal romana, na segunda metade do séc. IV. 

Fernando Bandeira Ferreira (1959) considerou os achados romanos de Setúbal como depósitos secundários associados a operações de secagem de sapais e desvalorizou publicamente as observações de J. Marques da Costa, usando o infeliz argumento de Magister Dixit. Fernando Bandeira Ferreira localiza então Caetobriga no castro sidérico de Chibanes, o que respondia aos pressupostos do sufixo briga de origem celta, significando colina eventualmente fortificada, e propõe a sua migração para Tróia no período romano imperial, quando o sítio de Chibanes foi abandonado; persiste, apesar das evidências materiais postas a descoberto por José Marques da Costa, na ideia de que não existia qualquer estabelecimento estável na margem direita da foz do Sado. Fernando Castelo-Branco (1954, 1963) apoia a hipótese de localização de Caetobriga defendida por F. Bandeira Ferreira, muito embora reconheça a existência em Setúbal de “um pequeno povoado lusitano-romano” sem escala para corresponder à cidade de Caetobriga. 

Fig. 1 – Ânfora Dressel 14 de Tróia, publicada por Gama Xaro, membro fundador da Sociedade Archeologica Lusitana, em 1860, no Archivo Pittoresco. 

Fig. 2 – Taça em prata então depositada na residência do duque de Palmela, muito provavelmente proveniente de contexto funerário de Tróia e publicada pela Sociedade Archeologica Lusitana em 1851 (SAL, 1851, p. 19). 

fig2Caetobriga

Fig. 3 – A-Distribuição dos vestígios romanos observados por José Marques da Costa, quando das obras de saneamento básico de 1957 (Costa, 1960); B-confirmação do mapa anterior pelo projecto “Preexistências de Setúbal”, desenvolvido pelo MAEDS, onde se assinalam os principais contextos romanos escavados e publicados. C- ânfora tardo-romana (Beltran 65A) encontrada na Rua Fran Paxeco, em 1957, repleta de moedas datadas do século IV (Fernandes, 1975).

Fig. 4 – Principais intervenções arqueológicas desenvolvidas pelo Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, na área urbana de Setúbal:

1 – Rua Francisco Augusto Flamengo, 10-12;
2 – Travessa dos Apóstolos;
3- Rua Arronches Junqueiro 32-34;
4 – Rua Arronches Junqueiro 73-75;
5 – Rua António Joaquim Granjo;
6 – Rua António Joaquim Granjo, 19 (Casa dos Mosaicos);
7 – Travessa de João Galo, 4-4B;
8 – Largo da Misericórdia;
9 – Travessa de Frei Gaspar;
10 – Travessa da Portuguesa;
11 – Av. Luisa Todi (edifício BCP);
12 – Rua Major Afonso Pala;
13 – Rua Álvaro Castelões;
14 a 16 – Rua António Januário da Silva;
17 – Rua Serpa Pinto;

18 – Avenida 5 Outubro;
19 – Rua Luís de Camões;
20 – Praça de Bocage / Av. Luisa Todi (edifício Montepio);
21 – Praça de Bocage;
22 – Largo do Sapalinho;
23 – Praça de Bocage/Loja Chiado;
24 – Rua de Bocage / Rua Augusto Cardoso (edifício daVinícola/Benetton);
25 – Beco de Dona Maria;
26 – Av. 22 de Dezembro;
27 – Rua Augusto Cardoso;
28 – Praça Miguel Bombarda/Largo do Convento de Jesus;
29 – Rua Acácio Barradas, 2;
30 – Rua António Maria Eusébio;
31 – Praça Machado dos Santos/Largo da Fonte Nova;
32 – Largo António Joaquim Correia;
33 – Baluarte da Nossa Senhora da Conceição;
34- Av. Luisa Todi, nos. 170-178;
35-Av. Luisa Todi, 266-272/Largo da Ribeira Velha.

As intervenções arqueológicas realizadas pelo MAEDS na área urbana de Setúbal (Fig. 4) vieram precisamente comprovar a existência de uma povoação romana (Fig. 5), tendo a distribuição dos seus vestígios ocupado não só o subsolo do burgo medieval muralhado, mas também o dos arrabaldes de Troino e Palhais, em uma extensão linear com cerca de 700m. 

Porém, tão importante quanto a identificação da Setúbal romana foram os estudos sobre a presença romana a uma escala regional promovidos e/ou participados pelo MAEDS, nomeadamente na Ilha do Pessegueiro (Tavares da Silva & Soares, 1993), área urbana de Sines (Tavares da Silva & Coelho-Soares, 2006), castelo de Alcácer do Sal (Tavares da Silva et al, 1980-81), Península de Tróia (Étienne, Makaroun, & Mayet, 1994; Mayet & Tavares da Silva, 2000a; Soares, 1980; Soares & Tavares da Silva, 2012), olarias romanas da margem direita do Sado (Coelho-Soares & Tavares da Silva, 1979; Mayet & Tavares da Silva, 1998, 2002, 2010, 2016; Mayet, Schmitt & Tavares da Silva, 1996), calçada romana do Viso (Tavares da Silva & Soares, 1986), estabelecimento do Creiro (Tavares da Silva & Coelho-Soares, 2016; Detry & Tavares da Silva, 2016), que permitiram a obtenção de uma visão coerente sobre a romanização à escala do Baixo Sado (Fig. 6); só a esta escala seria possível pensar Caetobriga como uma cidade polinucleada, cujo principal núcleo administrativo se teria situado no território da actual cidade de Setúbal, mas cujos principais sectores produtivos da fileira de preparados piscícolas se localizariam, por um lado, em Tróia (oficinas de salgas e molhos de peixe), e, por outro, na margem direita do Sado (olarias de ânforas) a jusante de Alcácer do Sal, pontuando com as suas manchas florestais e cais o rebordo do extenso salgado que, com a riqueza piscícola da região, fizeram a fortuna de Caetobriga, cidade de artérias aquáticas. 

Destacamos de entre as numerosas escavações de arqueologia urbana levadas a efeito pelo MAEDS, pelos significativos contributos trazidos a esta problemática, as intervenções, dirigidas pela signatária e por Carlos Tavares da Silva, que a seguir se apresentam resumidamente (Fig. 3B), excluída a não menos importante escavação realizada no nº 19 da Rua António Joaquim Granjo, “Casa dos Mosaicos”, precisamente objecto da presente monografia, e que forneceu uma ocupação desde a Idade do Ferro orientalizante ao período medieval islâmico. 

Fig. 5 – Localização de Caetobriga (Setúbal) no Sudoeste da Península Ibérica, em mapa de Mantas, 1999, adaptado. 

(a laranja) Fronteira de província 

(a verde) Fronteira de conventus 

1 – Barrosinha;
2 – Alcácer do Sal (Salacia);
3 – Bugio;
4 – Enchurrasqueira;
5 – Abul; 6 – Pinheiro;
7 – Zambujalinho;
8 – Santa Catarina;
9 – Quinta da Alegria;
10 – Pedra Furada;
11 – Setúbal (Caetobriga);
12 – Alferrar;
13 – Pedrão;
14 – Chibanes;
15 – Painel das Almas (Azeitão);
16 – Comenda;
17 – Rasca;
18 – Outão;
19 – Creiro;
20 – Sesimbra;
21 – Tróia. 

Fig. 6 – Localização de Caetobriga (Setúbal), no contexto arqueológico da ocupação da época romana do Baixo Sado: Adaptado de Soares, 2008. 

Travessa de Frei Gaspar

A intervenção arqueológica, realizada em 1979, abrangeu cerca de 120m2, área pertencente a um lote do centro histórico (contíguo ao edifício da Caixa Geral de Depósitos), onde se localiza actualmente uma oficina de turismo em “co-habitação” com oficina de preparados de peixe da época romana. 

Na metade nascente do lote, directamente sobre as areias de restinga que do sopé da colina de Santa Maria se estendia até à actual Praça de Bocage, localizou-se o peristilo de uma habitação de meados/terceiro quartel do século I d. C.. A camada de ocupação correspondente ao peristilo foi cortada pelo muro de delimitação de uma oficina de preparados piscícolas construída muito provavelmente no período flaviano (Fig. 7), com a “clássica” planta em U ou em L e revestimento de tanques e pátio por argamassa muito compacta e impermeável, constituída por fina brita calcária ligada por cal e areia. Esta oficina (de acordo com os primeiros estudos, neste momento em revisão) ter-se-á mantido em funcionamento possivelmente até à transição para o século III. Nos séculos III-IV foi abandonada e os seus tanques transformados em vazadores de lixo. No século V, alguns tanques receberam novos fundos e voltaram a funcionar (Tavares da Silva, Soares & Coelho-Soares, 1986). 

Fig. 7 – Oficina de preparados de peixe da Travessa de Frei Gaspar (Setúbal). Séculos I-V. Seg. Tavares da Silva, Soares & Coelho-Soares, 1986. 

A- Planta da área escavada com o peristilo de uma habitação de meados/terceiro quartel do século I d.C. (I), cuja camada de ocupação foi cortada pelo muro de delimitação de oficina de preparados piscícolas (II), construída muito provavelmente no último quartel do século I.

Embora incompleta, pode verificar-se que a oficina possuía uma planta em U, ou em L, cujo pátio abriria para oeste (sob o arruamento actual) e que na base do U, além dos grandes tanques de salga revestidos por argamassa de cal, areia e brita calcária, destinados provavelmente à produção de salsamenta, possuía uma fiada de seis pequenos tanques, presumivelmente destinados à manufactura de molhos de peixe.

B- Aspecto da oficina durante a escavação.

C – Lucerna paleocristã proveniente da C.6 do Tanque 8; tipo Atlante VIII, grupo C, atribuível ao século V d.C. (Bonifay, 2004, p. 360).

D – integração da jazida romana em imóvel de informação turística;
1 – tanques destinados à produção de molhos,
2 – grande tanque destinado à produção de salsamenta,
3 – páteo da oficina. 

Praça de Bocage

A escavação arqueológica (Fig. 8), realizada em 1980, abrangeu a metade sul da placa central da praça, em cerca de 98m2 (Tavares da Silva & Coelho-Soares, 1980-81), no âmbito do programa da sua repavimentação. Estes trabalhos revelaram a existência de uma praia frequentada desde a primeira metade do século I d. C. e a edificação de uma oficina de produção de preparados piscícolas, na segunda metade do mesmo século, que tinha a particularidade de integrar dois tipos de tanques separados por corredor: tanques revestidos por argamassa de cal, areia e brita calcária, destinados ao fabrico de salgas (tanque I), e tanques sem revestimento de qualquer tipo e com fundos impermeabilizados por argila que poderiam ter sido destinados a depósito de água e eventualmente de peixe e que por enquanto só possuem paralelos em fábricas de salga da Bretanha. No amplo pátio da fábrica foi edificado, num segundo momento construtivo, um compartimento quiçá com dois pisos, pois conservou-se o embasamento da caixa de escada, posteriormente subdividido. A oficina laborou até ao final do século II e foi abandonada, transformada em depósito de lixos, durante os séculos III-IV. O tanque I foi reutilizado como habitação durante a Idade Média. Estas estruturas viriam a ser cobertas por camada de areias de origem fluvio-marinha antes da construção da muralha afonsina; a partir do século XVI, o local sofreu uma ocupação funerária, enquanto adro da igreja de S. Julião. 

Fig. 8 – Estabelecimento fabril de salgas de peixe da Praça de Bocage (Setúbal). Séculos I-II. 

fig8Caetobriga

A- Planta da oficina de salgas; 

C – Aspectos da área escavada;

E – Tanque I, revestido interiormente por argamassa de cal, areia e brita calcária; 

B – Aspectos da área escavada; 

D- Tanques III e IV (sem revestimento nas paredes e fundos); 

F – Em primeiro plano, aspectos do Tanque II e do Compartimento A. Seg. Tavares da Silva & Coelho-Soares, 1980-81, modificado.

Largo da Misericórdia

Intervenção arqueológica suscitada pela reedificação de lote urbano no lado sul do Largo da Misericórdia, em 1988, com uma área de cerca de 90m2. 

A escavação revelou uma estratigrafia com mais de 2m de potência, tendo como substrato  areias de praia. A primeira fase de ocupação do local iniciou-se no reinado de Tibério (Fig. 9) e prolongou-se até ao século VI (Fig. 10). Registou-se ainda a presença de níveis do período islâmico, Baixa Idade Média e Idade Moderna. 

Na base da sequência estratigráfica foi identificada uma olaria, da qual se escavaram dois fornos geminados, cujas câmaras de aquecimento, de planta circular e com cerca de 3m de diâmetro interno, pertencem ao tipo a da classificação de P. Duhamel, com canais principal e secundários ao mesmo nível. Estes fornos funcionaram durante o período Tibério-Claudio, tendo revelado duas fases de laboração, separadas por curto hiato talvez motivado por trabalhos de reparação. Produziram ânfora Dressel 14 variante A e talvez ainda ânforas lusitanas precoces que, pela sua evolução, teriam originado aquela. 

Este achado veio situar os inícios do ciclo de produção de preparados piscícolas no estuário do Sado no período Tibério-Claudio, muito embora as oficinas de salgas de peixe mais antigas até agora escavadas na área urbana de Setúbal sejam um pouco mais tardias, datando da época flaviana, auge deste ciclo de desenvolvimento económico. A cronologia então proposta (Tavares da Silva, 1996) para o início do ciclo de produção de preparados piscícolas pode agora ser recuada para o período Augusto-Tibério graças à descoberta de entulheira de presumível olaria de produção de ânforas, na Rua António Joaquim Granjo, nº 19. O padrão locativo dos fornos de ânforas do Largo da Misericórdia permitiu defender uma estratégia de integração vertical da produção de salgas e da manufactura de ânforas nos inícios do Império, modelo que seria substituído pelo da organização da produção de salgas de peixe em grande escala, a partir da segunda metade do século I, com a produção anfórica também em grande escala, como na Herdade do Pinheiro (Mayet & Tavares da Silva, 1998), sectorial e fisicamente dissociada dos estabelecimentos de preparados piscícolas, e nas proximidades das matérias-primas (barreiros e floresta) e com acesso a transporte fluvial (Tavares da Silva, 1996, p. 49). 

Proveniente do topo da sequência da ocupação romana do Largo da Misericódia, atribuível à Antiguidade tardia dos séculos V-VI, há a registar o aparecimento de um capitel de influência bizantina  com quatro folhas nervuradas e cálato em V, com paralelos em exemplares de Salacia no que concerne à decoração vegetalista (Limão, 2010). Esta peça confirma a informação, fornecida pela cerâmica de importação, respeitante à chegada ao porto de Caetobriga de materiais de origem norte-africana e oriental em momento avançado da Antiguidade tardia, assinalando o fim do ciclo do sistema económico marítimo em que o sudoeste da Lusitânia se havia especializado (Edmondson, 1987). 

 

Fig. 9 – Largo da Misericórdia (Setúbal).

A-B – Planta e foto da base de dois fornos geminados de produção anfórica. Foram construídos durante o período de Tibério e mantiveram-se em funcionamento durante o período Tibério-Claudio.

C – Ânforas, Dressel 14, var. A, e talvez ânforas lusitanas precoces aí produzidas. Seg. Tavares da Silva, 1996. 

Fig. 10 – Largo da Misericórdia (Setúbal). Capitel (séc. V-VI) de concepção bizantina. Foto de Rosa Nunes. 

Travessa de João Galo, nºs 4-4B

Escavação arqueológica realizada em 1997, em uma área de cerca de 35m2. Neste lote do centro histórico de Setúbal, localizado no sopé da colina de  Santa Maria, identificou-se uma camada de areia de praia com materiais do período orientalizante, subjacente aos estratos da ocupação romana imperial. Durante a segunda metade do século I e século II o local foi ocupado por armazém de ânforas da forma Dressel 14, certamente associado a oficina de produção de preparados piscícolas existente no exterior do lote intervencionado e não muito distante do porto natural da baía de Setúbal. Ainda no século II, e após o abandono do armazém de ânforas, foi construído um edifício monumental virado para uma praça, do qual identificámos parte do podium e elementos arquitectónicos, nomeadamente uma cornija em calcário de grandes dimensões (Fig. 11). Este edifício colapsou na transição para o século III, provavelmente em consequência de sismo. A ocupação do local prolongou-se até aos séculos VI-VII, com uma cultura material de forte tradição romana; Setúbal continuava a receber influências e produtos externos provenientes da actual Tunísia (terra sigillata africana D), a que se juntaram importações da Narbonense (cerâmica estampada cinzenta) e da actual Turquia (sigillata foceence tardia, LRC) (Fig. 12) (Tavares da Silva & Coelho-Soares, 2014). 

 Fig. 11 – Travessa de João Galo, 4-4B (Setúbal).

A – Perfil estratigráfico: a C. 9 corresponde ao piso de ocupação em correlação com o armazém de ânforas Dressel 14, em funcionamente desde a segunda metade do século I à primeira metade do século II; o piso da C.7, em correlação com o edifício monumental, da segunda metade do século II, foi destruído por grandes fossas (C.5), associadas ao desmantelamento e aproveitamento de pedra de construções anteriores, fossas datáveis dos séculos IV-V; a C.2, formada após o abandono do pavimento da C. 3, corresponde a uma lixeira doméstica do século VI, com possível prolongamento pelo século seguinte. 

B- Cornija de grandes dimensões, com c. de 3 toneladas, do edifício monumental do século II. Seg. Tavares da Silva e Coelho-Soares, 2014. 

Fig. 12 – Travessa de João Galo (Setúbal).

Materiais do século VI (Fase V).

Sigillata africana D (nos 1 a 9), sigillata foceense tardia (nº 10), e cerâmica estampada cinzenta (nos 11 e 12).

Desenho de Susana Duarte in Tavares da Silva & Coelho-Soares, 2014.

Rua Francisco Augusto Flamengo, nºs 10-12

A escavação arqueológica decorreu em duas campanhas que tiveram lugar em 2008-2010 e abrangeram uma área de cerca de 250m2 (Fig. 13A) (Tavares da Silva et al., 2010, 2014). Esta escavação revelou uma ocupação de ampla diacronia (Fig. 13B). No que respeita à ocupação da época romana, localizou-se uma lixeira datada da 2ª metade do século I e do século II d. C. Os materiais proporcionados por esta lixeira revelaram um domínio da terra sigillata sudgálica no conjunto das cerâmicas finas de mesa  1 (Fig. 14). As ânforas encontradas documentam a diversificada actividade comercial da Setúbal romana: vinho do Egeu (ânfora da classe 9 de Peacock/Williams), da Península itálica (ânfora Dressel 2-4), do sul da Gália (Gaulesa 4) e do sul de Espanha (Haltern 70); azeite do vale do Guadalquivir (Oberaden 83); salsamenta de produção local, embalada em ânforas Dressel 14; um exemplar conserva ainda os restos esqueléticos de sardinha miúda (Gabriel & Tavares da Silva, 2016) (Fig. 15). 

Após a selagem do vazadouro em fase quiçá precoce do século II, foi construído nas proximidades, em momento impreciso, um grande reservatório de água (Fig. 16), com uma capacidade superior a 250m3. A partir de meados do século IV, a limpeza e manutenção do reservatório revelam-se pouco eficientes. Na base do seu enchimento (C.14), surge terra sigillata africana D (Hayes 61A) associada a ânfora Almagro 51c, variante B. A parte superior do seu enchimento ter-se-ia formado no século V, tal como foi sugerido por alguns materiais como: sigillata africana D (Hayes 91A), ânforas Almagro 51c, Almagro 51a-b e Sado1. Após um prolongado abandono, o lote viria a ser ocupado como necrópole, no período islâmico (séculos X-XI). Nos séculos XIII-XIV depositaram-se no local várias lixeiras domésticas, e embora o lote tivesse sido incluído no interior da cerca afonsina (Fig. 13A), somente a partir da Idade Moderna passa a ser utilizado com finalidade residencial. 

1 – É importante assinalar que mesmo na camada atribuível ao século II, a terra sigillata hispânica é muito rara, o que pode ser explicado pela prevalência do comércio marítimo sobre o terrestre, expectável em um aglomerado portuário como Caetobriga. No entanto, uma cronologia precoce dentro do século II para a camada de selagem da lixeira é admissível, considerando a elevada frequência de terra sigillata sudgálica nessa camada.

Fig. 13 – Rua Francisco Augusto Flamengo nºs 10-12 (Setúbal).

A- Localização do lote;

B-Perfil estratigráfico do Locus A, cuja base assentou sobre arenito pliocénico:
Cs. 14 a 11-sedimentos de origem coluvionar com materiais exclusivamente pré-romanos resultantes da erosão e transporte de níveis arqueológicos sidéricos;
C. 10- escorrências do substrato geológico;
Cs. 9-7- níveis de ocupação romana;
C. 6- formação descontínua constituída por fossas funerárias do período islâmico;
C. 5- escorrências do substrato geológico;
C. 4- terraplenagem do lote com mobilização de camadas de ocupação romana de cotas superiores.
Cs. 3-1- pavimentos da época contemporânea. Seg.
Tavares da Silva et al., 2014. 

Fig. 14 – Rua Francisco Augusto Flamengo nºs 10-12 (Setúbal), lixeira alto-imperial.

A – Marcas de oleiro em terra sigillata sudgálica.

1-[…] VSI;

2- OF PATRICI;

3- ISA[…];

4- BIOFECIT.

B – Marcas de oleiro em terra sigillata hispânica.

1- […]E. FIRM, do oleiro Valerius Firmus (forma Drag.27);

2 e 3- PET EROOFI, do oleiro Petronius Eros (formas indeterminadas).

Desenhos de Susana Duarte e Ana Castela in Tavares da Silva et al., 2014. 

Fig. 15 – Rua Francisco Augusto Flamengo nºs 10-12 (Setúbal).

Lixeira alto-imperial.

Ânfora Dressel 14 da variante C. Continha restos esqueléticos de sardinha miúda em conexão anatómica (salsamenta).

Seg. Tavares da Silva et al., 2014. 

Fig. 16 – Rua Francisco Augusto Flamengo nºs 10-12 (Setúbal).

Planta parcial de reservatório de água da época romana.

Seg. Tavares da Silva et al., 2014.

Rua Arronches Junqueiro, nº 75

Em uma pequena sondagem de cerca de 9m2 (dada a exiguidade do lote), realizada em 2009, no nº. 75 da Rua Arronches Junqueiro, vertente oeste da colina de Santa Maria, identificaram-se vestígios do peristilo de uma domus, cuja galeria, muito provavelmente porticada, foi pavimentada a opus tessellatum e bordejada por espelho de água. Estes importantes testemunhos arquitectónicos (Fig. 17) prolongavam-se pelo edifício contíguo a poente, que foi objecto de renovação, com reforço estrutural de paredes, em 2015/2016, sem que, estranha e lamentavelmente, tivesse ocorrido acompanhamento arqueológico. 

O mosaico é de estilo geométrico e de movimento tridimensional, apresentando cores vivas (vermelho e ocre) e composição complexa organizada a partir de estrelas de oito pontas losângicas, enquadradas por rectângulos de entrançados; na cercadura exterior pode ver-se uma banda de ogivas e escamas, onde o vermelho é dominante. Foi datado da transição para o século III. Os derrubes que cobriam o mosaico sugerem o colapso do edifício durante o século V/VI (LRC na forma Hayes 3B, ânforas lusitanas das formas Almagro 51c, variante C, Almagro 51a-b e ânfora globular LRA2/ Keay LXV) (Fig. 18) (Tavares da Silva, Soares & Wrench, 2010). 

Caetobriga: Setúbal e Tróia

A Caetobriga (Figs. 5 e 6), referida por Ptolomeu 2 e localizada de acordo com o Itinerário de Antonino na desembocadura do Sado, dependia administrativamente de Salacia, principal aglomerado urbano do estuário do Sado, capital de civitas. O farol designado por “Torre dos Salakeinoi” no papiro  de Artemidoro, de finais do século II a. C. (Gallazi et al., 2008) é justamente localizado na desembocadura do Sado por Jorge de Alarcão (Alarcão, 2011), muito provavelmente no Outão. 

Porém, o poder económico de Salacia viria a transferir-se para Caetobriga (Tavares da Silva et al, 1980-81). Atenda-se, por exemplo, ao facto dos centros oleiros da Estrada da Parvoíce (Pimenta, Ferreira & Cabrita, 2016), Barrosinha e Bugio (Mayet, Schmit & Tavares da Silva, 1996) do círculo portuário imediato de Salacia não terem sobrevivido ao século II, ao contrário do observado nas olarias a jusante, que associamos a Caetobriga. 

A referida deslocalização do polo de desenvolvimento económico para jusante resultou por certo da maior acessibilidade de Caetobriga quer aos recursos piscícolas, quer aos mercados consumidores de salgas e molhos de peixe, em cenário de crescente dinâmica de assoreamento do rio (Freitas e Andrade, 2008). Estes factores teriam contribuído para a emergência e desenvolvimento de uma cidade marítima e polinucleada na foz do Sado. Ao núcleo de origem sidérica da margem norte do estuário (Tavares da Silva & Soares, 1986; Soares, 2000) juntou-se um importante aglomerado industrial na margem oposta (Étienne, Makaroun & Mayet, 1994), localizado na actual Península de Tróia, antiga ilha de Achale (cf. Avieno, 1992), cuja fundação pode ser por agora datada do reinado de Tibério (Pinto, Magalhães & Brum, 2011) e é atribuída à iniciativa de uma rica e influente família da Lusitânia os Cornelii Bocchi , na personagem de Lucius Cornelius Bocchus de Salacia (González Herrero, 2011; Alarcão, 2011). Neste centro fabril, por hipótese satélite de Caetobriga, especializado na produção de salgas e molhos de peixe, encontram-se actualmente inventariadas 25 unidades de produção (Pinto et al., 2016), que, sem soluções de continuidade, abrangem cerca de 800 metros ao longo do rio, bem como, espacialmente dissociados, dois outros núcleos fabris localizados no Recanto do Verde e junto do Cais dos Fuzileiros (Fig. 19). 

2 – É referida como túrdula, mau grado o sufixo briga, o que evidencia a vinculação do estuário do Sado ao mundo fenício tardio organizado por Gadir, até ao período romano (Tavares da Silva et al, 1980-81). Com efeito, importa sublinhar que a ocupação sidérica de Setúbal se integra na matriz mediterrânea e orientalizante e que essa tradição cultural, à semelhança do que ocorreu em outros centros urbanos comerciais atlânticos (p. ex. Olisipo), permaneceu até à plena romanização. 

Fig. 18 – Rua Arronches Junqueiro, nº 75.

Ânfora globular LRA 2/Keay LXV, muito provavelmente vinária, de importação oriental (Egeu ou Mar Negro), dos séculos VI-VII
(Vizcaíno Sánchez, 2009, p. 618).

Fig. 17 – Rua Arronches Junqueiro, nº 75 (Setúbal).

Seg. Tavares da Silva, Soares & Wrench, 2010.

fig17CaetobrigaA

Planta da área escavada;

fig17CaetobrigaC

Reconstituição tridimensional;

fig17CaetobrigaB

Foto da área escavada;

fig17CaetobrigaD

Pormenor do mosaico.

No auge do desenvolvimento de Tróia (segunda metade do século I e século II d. C), as 22 oficinas de salgas de peixe onde até agora se realizaram medições (em 80 tanques), teriam uma capacidade de produção mínima de cerca de 1429m3 suficiente para encher mais de 40.000 ânforas (Pinto, Magalhães & Brum, 2011, fig. 39; Magalhães, 2014; Pinto et al., 2016), valor que não abrange a totalidade da capacidade produtiva instalada, mas que é claramente superior à de outros importantes centros produtores de preparados piscícolas do arco atlântico (Olisipo, Baelo Claudia, Lixus). As salgas da Lusitânia do Alto Império destinavam-se em grande parte a exportação por via marítima e foram embaladas em ânforas da forma Dressel 14. Mesmo com suposta recomposição de carga e eventual mudança de vasilhame (por hipótese substituição de ânforas lusitanas por béticas) na cidade-entreposto de Gades, as ânforas lusitanas Dressel 14 são mais frequentes que as de fabrico bético nos níveis do século II de Ostia (Mayet, 2001); a sua presença nos naufrágios de San Antonio Abad (Ibiza), de Saint-Gervais (Bocas do Ródano), Cap Bénat I (Var) e Sud-Lavezzi III (Córsega), entre outros, permite admitir a existência de duas rotas marítimas principais do Sudoeste Peninsular para Ostia: via Tarraconensis e sul da Narbonensis; e através das ilhas baleares e estreito de Bonifácio (Étienne & Mayet, 1993-94; Arnaud, 2005). A esmagadora predominância de ânforas lusitanas de preparados piscícolas na totalidade do material anfórico até agora inventariado em Tróia (Pinto et al., 2016) é bem elucidativa acerca do carácter económico monofuncional deste estabelecimento e da sua vocação para a produção em larga escala (Fig. 20). Decididamente, trata-se de um grande centro produtor e de um relativamente pequeno “mercado” consumidor, se excluirmos as matérias-primas e bens manufacturados (factores de produção) destinados à fileira produtiva de salgas. A imagem de uma população com fraco poder de compra compagina-se bem com o “baixo” estatuto social registado em algumas inscrições funerárias de Tróia (Encarnação, 1984).

Na margem norte do Sado, o núcleo fabril de salgas de peixe e olarias de ânforas atingem, tal como em Tróia, o apogeu durante o Alto Império (Tavares da Silva, 1996; Tavares da Silva & Coelho-Soares, 1980-1981, 2014; Tavares da Silva & Soares, 1986; Tavares da Silva, Soares & Coelho-Soares, 1986; Tavares da Silva, Soares & Wrench, 2010, 2015; Tavares da Silva et al., 2010, 2014; Soares, 2000). Além dos núcleos principais da ilha de Achale e de Setúbal, não podemos esquecer que no litoral da Arrábida, até à baía de Sesimbra, existia um rosário de estabelecimentos de produção de preparados piscícolas, quer especializados, como o Creiro (Tavares da Silva & Coelho-Soares, 2016), quer integrados em explorações agro-pecuárias   como a Comenda (Tavares da Silva & Cabrita, 1964, 1966; Viegas & Soares, 1980; Viegas, 2016). 

Fig. 19 – Localização das oficinas de preparados piscícolas do centro fabril de Tróia em mapa Google. Adaptado de Pinto et al., 2016. 

Fig. 20 – Tróia. Frequência relativa de ânforas lusitanas no conjunto da totalidade das ânforas registadas na jazida. Seg. Pinto, et al., 2016.

 

A actividade piscatória de Caetobriga foi, ao longo do Império, dirigida para espécies gregárias, sobretudo sardinha que constituiu a principal matéria-prima para a manufactura de salgas e molhos. Esta afirmação é suportada pela análise de restos de ictiofauna recolhidos em cetariae e ânforas (Desse-Berset & Desse, 2000; Étienne, 1990; Gabriel & Tavares da Silva, 2016); a ânfora Dressel 14 teria sido usada para transportar salsamenta, como foi comprovado nas escavações da Rua Francisco Augusto Flamengo, mas também provavelmente molhos (liquamen ou muria), de acordo com informação recolhida nas escavações da Rua António Joaquim Granjo (Gabriel & Tavares da Silva, 2016). A informação fornecida por tituli picti em ânforas Dressel 14 (Djaoui, 2016) confirma o transporte de molhos e salsamenta. O principal mercado consumidor dos preparados de peixe lusitanos terá sido Itália e particularmente Roma (Étienne, Makaroun & Mayet, 1994, p. 164- 165). Esse comércio parece ter atingido o seu máximo desenvolvimento na primeira metade do século II (Rizzo, 2016). O certamente extenso salgado que terá servido o complexo de produção de preparados piscícolas do Sado foi presumivelmente sobreposto pelas salinas medievais e posteriores. Do salgado da Herdade da Gâmbia proveio uma ânfora Dressel 14 completa, que deverá relacionar-se com a actividade salineira na Antiguidade. 

Caetobriga afirma-se, pois, como uma cidade portuária, de grande dinamismo produtivo, cujos núcleos seriam ligados sobretudo por via aquática, não se lhe aplicando a noção de cidade “parasitária” e monumental. Só muito recentemente foi possível identificar, na área residencial da colina de Santa Maria, vestígios de edifício monumental, talvez de carácter público (Tavares da Silva & Coelho-Soares, 2014; Tavares da Silva et al., 2010, 2014) e de domus com pavimentos musivos e decoração parietal de pintura a fresco (Tavares da Silva, Soares & Wrench, 2010), expressão arqueológica da “aristocracia” mercantil local. No núcleo de Tróia, foi igualmente identificada uma área residencial com edifícios de dois pisos decorados por mosaicos e frescos (Rua da Princesa); objecto de escavações antigas, deles muito pouco se conserva, quer no que respeita aos vestígios arquitectónicos existentes no local, quer no que concerne à cultura material móvel. A bibliografia de António Inácio Marques da Costa alusiva às edificações de Tróia (Costa, 1898 e 1930-1931) permite-nos avaliar da qualidade desse sector residencial. 

Fig. 22 – Tróia. Lucerna paleocristã tardia, com cruz no disco e decoração relevada na orla, atribuível ao tipo Atlante X, grupo D4, datado do século VII d.C. (Bonifay, 2004, p. 361; Soares, 1980, Fig. 20).

Foto de Rosa Nunes.

Fig. 21 – Tróia. A – Fresco da basílica paleocristã. O monograma de Cristo foi entretanto destruído.

B – Localização do baptistério (1).

Desenhos de A. I. Marques da Costa, 1930-1931, Figs. 22 e 27. 

 

A partir do segundo quartel do século III, após momento de forte recessão, na passagem do século II para o III, que alguns autores atribuem a sismo de grande magnitude no Sudoeste Ibérico (Mayet & Tavares da Silva, 2010), aquele sector de actividade fabril mostra ainda capacidade para proceder a profunda reorganização através de segmentação ou parcelamento dos estabelecimentos oficinais e da diversificação de salgas e molhos, entre os quais se destacaria o garum (Étienne & Mayet, 2000), muito associado ao tipo anfórico Almagro 51c, o mais produzido nas olarias do estuário do Sado durante o Baixo-Império (Mayet & Tavares da Silva, 2016). 

Ânforas lusitanas do Baixo Império (Almagro 50 e 51c) encontraram-se em naufrágios da rota atlântico-mediterrânea: Gades-Roma-Sicília. E tal como Francoise Mayet afirma ao referir-se ao naufrágio de Cabrera III (Maiorca), muito provavelmente com carga composta em Gades, as ânforas embalariam o garum lusitano, sob a designação de garum hispanum (Mayet, 2001). As ânforas lusitanas do final do IV à primeira metade do século V seguem rotas mais meridionais e associam-se a produtos africanos. A sua presença nas cidades portuárias fica muito aquém do ocorrido nos séculos I e II d. C. Durante o Alto Império, as ânforas lusitanas de salgas de peixe integraram cargas com azeite da Bética e circularam sobretudo segundo a rota Tarraconense/Gália narbonense, mas também através do estreito de Bonifacio. 

Caetobriga entra em declínio durante o Baixo Império, com o abandono e/ou reconversão de estabelecimentos de produção de salgas, mantendo no entanto a produção de preparados piscícolas em pequena escala até ao século V, como foi também verificado na produção anfórica (Mayet & Tavares da Silva, 2016, Fig. 14). Na Setúbal romana – fábrica da Travessa de Frei Gaspar (Tavares da Silva, Soares & Coelho-Soares, 1986) – e no estabelecimento do Creiro, Arrábida (Tavares da Silva & Coelho-Soares, 1987, 2016), observou-se uma reactivação parcial das cetariae durante o século V, após fase de abandono. 

Dos finais do século IV ao século VI d. C., Tróia sofre claramente uma reorientação económica, com destaque para as funções funerária e religiosa; atenda-se às sepulturas de tipo mensa, à basílica paleocristã com pintura mural a fresco (Fig. 21A) (Maciel, 1996) e ao baptistério (Costa, 1898) (Fig. 21B). Esta é a última fase da vida do núcleo de Tróia, que antecedeu o total abandono do sítio até à Baixa Idade Média, quando uma ermida cristã de invocação mariana 3 retomou, no local, a função religiosa, para a comunidade piscatória de Palhais/ Fontainhas, que aí realiza anualmente a sua festa religiosa. A desurbanização atingirá também a Setúbal romana, a partir talvez de finais do século IV, muito embora de forma menos radical, como veremos adiante. 

3 – Capela construída no topo da duna que cobriu, na “boca da Caldeira”, a basílica paleocristã.

Estrutura funcional da Setúbal romana

O núcleo principal da povoação (ver Fig. 13 do Cap. 2, Enquadramento pealeogeográfico) localizar-se-ia na colina de Santa Maria (com cerca de 5 ha.): o centro urbano e principais edifícios públicos, na área do terreiro e igreja de Santa Maria (Soares, 2000); o reservatório de água para abastecimento público, no topo da mesma colina (Tavares da Silva et al., 2010); e as domus da “aristocracia” local na suave vertente que descia em direcção à praia (Tavares da Silva, Soares & Wrench, 2010). No exterior do núcleo urbano, a nascente, localizavam-se as necrópoles (Soares, 2000), cujo conhecimento se baseia apenas na necrópole da Ladeira de S. Sebastião, observada, em 1906, por A. I. Marques da Costa, quando da abertura do túnel para a linha férrea (Tavares da Silva, 1966). Recentemente, deparámo-nos com o achado de um fragmento de ânfora romana no subsolo do cemitério de N. S.ª da Piedade, o que pode ser um indicador do prolongamento da área da necrópole romana para nascente, sob o casario do Bairro de S. Domingos e mesmo sob o actual cemitério. A hipótese da Setúbal romana ter “exportado” para Tróia, pelo menos parcialmente, a função funerária, parece-nos muito plausível. 

A restinga arenosa que da base da colina de Santa Maria se dirigia para o que é hoje a Praça de Bocage (Soares, 2000), com cerca de 2,5ha (Largo da Misericódia, Ruas dos Caldeireiros, Paula Borba e Januário da Silva, Largo da Ribeira Velha e Rua do Jornal “O Setubalense”), foi edificada sobretudo com oficinas de produção de salgas e molhos de peixe e olaria de ânforas (Tavares da Silva, 1996), principalmente a partir de meados do século I.

A partir do núcleo de Troino tinha-se acesso às pedreiras do Viso (Soares, 1980) e à via terrestre de ligação a Olisipo (Tavares da Silva & Soares, 1986). 

Para nascente de Caetobriga, ao longo da margem direita do Sado, e na foz da Ribeira da Marateca localizavam-se as olarias de produção de ânforas necessárias ao envasamento dos preparados piscícolas: Quinta da Alegria, Zambujalinho, Pinheiro, Abul (Mayet, Schmitt & Tavares da Silva, 1996; Mayet & Tavares da Silva, 1998 e 2002). Estes centros oleiros aliaram, numa lógica de grande racionalidade económica, a máxima acessibilidade aos barreiros e à floresta, com a manutenção do acesso directo a transporte fluvial. Pela mesma via se chegaria à provavelmente mais extensa área de salinas da região (sapais de Praias do Sado e Gâmbia), onde ocasionalmente têm sido recolhidos materiais anfóricos (ânfora Dressel 14); um outro salgado localizar-se-ia na periferia imediata da cidade, no sapal do esteiro do Livramento, onde se ergue actualmente o convento de Jesus, cuja construção, no século XV, foi responsável pela secagem do sapal e desactivação da prática da salicultura nessa área (Tavares da Silva, 1989). 

A economia de Caetobriga, excessivamente especializada na fileira de salgas e molhos de peixe, encontrava-se muito dependente de mercados consumidores exteriores, mediados muito provavelmente pela cidade-entreposto de Gades. Seria, pois, muito vulnerável às conjunturas económicas, sociais e políticas do Império em geral e das cidades com as quais mantinha contactos comerciais, em particular. A uma crise ocorrida nos finais do século II/inícios do século III, cujas causas não estão apuradas, a economia local reagiu a partir de meados do século III, como salientámos anteriormente, pela via da segmentação e diversificação das produções piscícolas. A partir dos séculos V/ VI, o colapso deste sistema económico-social foi tão intenso que Tróia não voltaria a reurbanizar-se, e Setúbal só voltaria a fazê-lo de forma plena a partir do século XIV (Soares, 2000). No entanto, entre as ruínas da Setúbal tardo-romana, encontramos alguns indícios de resistência a um total despovoamento, como a despojada sepultura colectiva do nº 19 da Rua António Joaquim Granjo, do período visigótico, em que a assinatura isotópica do δ13C e δ15N das suas ossadas põe em destaque a importância dos recursos marinhos na alimentação da pequena comunidade, certamente piscatória, que terá habitado a baía de Setúbal durante o século VII d. C (ver estudo no presente volume). 

Fig. 24 – Rua Francisco Augusto Flamengo, nºs 10-12 (Setúbal). Planta e enterramentos da necrópole islâmica. Seg. Tavares da Silva et al., 2014.

Fig. 24 – Rua Francisco Augusto Flamengo, nºs 10-12 (Setúbal).

Planta e enterramentos da necrópole islâmica. Seg. Tavares da Silva et al., 2014.

Fig. 25 – Rua Francisco Augusto Flamengo, nºs 10-12 (Setúbal).

Necrópole islâmica. Datação radiocarbónica do inumado na Sepultura 1.

Seg. Tavares da Silva et al., 2010.

Período Medieval Islâmico

O período medieval islâmico encontra-se mal representado (Fig. 23), mau grado a atenção dispensada aos seus mínimos vestígios no quadro do projecto sobre as preexistências de Setúbal. Merecem destaque os seguintes testemunhos: 

– Necrópole da Rua Francisco Augusto Flamengo (Tavares da Silva et al., 2010, 2014) (Figs. 24 e 25), de que foram escavadas 22 sepulturas em fossa, com os corpos depositados em decúbito lateral direito, e face virada para nascente, sem oferendas funerárias associadas. O esqueleto 1 (Sond. III, Q. L19, C. 6B) forneceu uma datação dos séculos X-XII (Fig. 25) (Beta-256936: 1000±40BP= 980-1150 cal AD, a 2 sigma). Os valores obtidos para δ13C e δ15N, respectivamente -17,4 (‰) e +11.6 (‰) indicam uma alimentação com elevada componente de proteínas de origem marinha (Schoeninger & DeNiro, 1984); 

– Ocupação de carácter habitacional da RAJG.19 (ver estudo no presente volume). 

– Cabanas das Ruas de Bocage/Augusto Cardoso, ed. Vinícola/Benetton (Soares, 2002), instaladas sobre uma praia de areias fluvio-marinhas (Fig. 26), do período almoada (século XII); 

Figs. 26 – Ruas de Bocage/Augusto Cardoso (edifício da Vinícola/Benetton). Seg. Soares, 2002.
A- Perfil estratigráfico da Sondagem IV realizada na metade sul do lote, virada à R. Augusto Cardoso, antiga R. dos Sapateiros. A C.10 corresponde à ocupação medieval islâmica e nela se registaram fossas de detritos domésticos escavadas nas areias de praia da restinga (C. 11) que atravessa o lote na direcção E-O. As fossas encontravam-se revestidas internamente por argila, o que sugere uma localização interior, provavelmente em cabanas construídas em materiais perecíveis.
B- A cultura material associada indica uma cronologia almoada (século XII). Tenha-se presente que a restinga confinava, na metade norte do lote, com área pantanosa para onde foram sendo atirados lixos de actividades doméstica e agrícola pelo menos até ao século XIV. Uma amostra de vides recolhida nessa área (Beta- 164907) forneceu a data radiocarbónica de 600 ±50 BP, a qual calibrada a 2 sigma corresponde ao intervalo cronológico de 1290-1420 cal AD. A intersecção da data radiocarbónica com a curva de calibração ocorre em três momentos, todos do século XIV: 1320, 1340, 1390 cal AD. Seg. Soares, 2002. 

Quadro 1

Datações radiocarbónicas de estacarias de cais palafiticos, dos períodos medieval islâmico e medieval cristão, anteriores à construção da muralha afonsina.

Séculos XI-XIII. 

Estacarias (Fig. 27) de cais palafíticos anteriores à cerca muralhada afonsina e perpendiculares à linha de costa (edifícios Montepio e BCP na Av. Luisa Todi), datadas radiocarbonicamente dos séculos XI-XIII (Quadro 1), aparentemente sem descontinuidades entre o medieval islâmico e o medieval cristão. Também na Rua Luís de Camões, virada para o esteiro do Livramento, ao abrigo da restinga, foram identificadas estacas do mesmo tipo por enquanto sem datações. Pomares e vinhas bordejavam a área pantanosa onde hoje se localizam a Travessa da Portuguesa, o Largo do Sapalinho, a Rua de Bocage e deixaram testemunhos directos da sua presença (Soares, 2000), através de abundantes macro-restos vegetais; algumas amostras de vides têm vindo a ser datadas; foram recolhidas nas camadas de lodos da Travessa da Portuguesa (ICEN-698, com o intervalo de 1015-1213 cal AD, a 2 sigma), do Largo do Sapalinho (ICEN-699, com o intervalo de 1034- 1253 cal AD, a 2 sigma) e do edifício da Vinícola/Benetton, na Rua de Bocage (Beta-164907: 600±50 BP, com o intervalo de 1290-1420 cal AD, a 2 sigma) (Fig. 28). À semelhança do que foi observado relativamente à cronologia das estacarias dos cais palafíticos, também as vides fornecem um intervalo cronológico que nos permite supor a inexistência de descontinuidades no que ao cultivo da vinha respeita entre o medieval islâmico e o cristão. Por outro lado, a datação obtida para   o sítio arqueológico da Rua de Bocage coloca em destaque a existência de vinha dentro da cerca muralhada afonsina e a tardia conquista de solo urbano à área húmida intra-muros. As primeiras construções em alvenaria registadas sobre o antigo sapal da metade norte do lote do edifício da Vinícola/Benetton foram datadas do século XV (Soares, 2002, p. 251). 

A Setúbal da época islâmica terá, provavelmente, correspondido a uma aldeia de cabanas construídas em materiais perecíveis, cuja economia assentou na pesca, associada a uma agricultura hortofrutícola. As boas condições de porto natural oferecidas pela baía de Setúbal obstaram à autarcia do povoado, mesmo durante a sua fase de desurbanização e ciclo de vida mais depressivo. 

Fig. 27 – Av. Luisa Todi (edifício BCP)

Estacaria de cais palafítico, perpendicular à linha de costa, do período medieval (Soares, 1997)

Fig. 28 – Rua de Bocage.

Edifício da Vinícola/Benetton. Calibração da amostra Beta-164907, constituída por vides recolhidas na C. 10 da Sondagem II. Lab. Beta Analytic Inc.

Antecedentes proto-históricos Travessa dos Apóstolos

Em 1984, a escavação de emergência na Travessa dos Apóstolos, na colina de Santa Maria, em lote urbano a reedificar, desenvolvida em uma extensão de cerca de 100m2, revelou a mais potente estratigrafia e a mais ampla diacronia da ocupação humana do subsolo do centro histórico de Setúbal (Soares & Tavares da Silva, 1986; Soares, 2000). Pela primeira vez, foram registadas camadas arqueológicas anteriores à época romana, atribuíveis ao Bronze final, século VIII ( C. 14) e à I Idade do Ferro, séculos VII-V a. C. (Cs. 12 e 13). Os resultados desta intervenção permitiram recuar as origens de Setúbal para momento tardio do Bronze final , ou seja, para a fase de interacção das comunidades indígenas da foz do Sado com os mercadores fenícios do Ocidente, no quadro da construção do império comercial atlântico da metrópole fenícia de Gadir. A colonização fenícia do estuário do Sado terá estabelecido forte vínculo comercial com a comunidade do Bronze final da foz do Sado (povoado da colina de Santa Maria), antes de fundar a sua própria feitoria em Abul (Mayet & Tavares da Silva, 2000b), a meia distância entre a desembocadura do rio e o fundo do estuário, onde se localizava o povoado da colina do castelo de Alcácer do Sal (Tavares da Silva et al.,1980-81). Em ambos os povoados, de fundação indígena, o processo de miscigenação cultural com os colonos fenícios do círculo do Estreito foi tão intenso e persistente que a matriz cultural orientalizante haveria de prosseguir até à romanização 4. 

Após a descoberta destes primeiros vestígios da Setúbal proto-histórica, outros achados datados da Idade do Ferro têm vindo a ser identificados nas vertentes meridional e ocidental da colina de Santa Maria, nomeadamente na Rua Francisco Augusto Flamengo, nºs 10-12, Rua Arronches Junqueiro, nos. 32-34, Travessa de João Galo, nºs 4-4B, no nº. 19 da Rua António Joaquim Granjo (RAJG.19). De um modo geral, os materiais recuperados vão do século VII ao século V a. C., havendo entre este período e a ocupação romana imperial uma descontinuidade que nos tem feito pensar em provável deslocalização do povoado sidérico durante a II Idade do Ferro. 

Com uma topografia pouco interessante para um castro da II Idade do Ferro, o centro histórico de Setúbal, se excluirmos a colina de Santa Maria, apenas ofereceria razoáveis condições para aquele assentamento no esporão sobranceiro à margem direita do esteiro do Livramento (colina de Nossa Senhora da Saúde), onde não têm sido realizadas operações de renovação urbana motivadoras de quaisquer intervenções arqueológicas. Porém, mais recentemente, na Rua Francisco Augusto Flamengo, nºs 10-12 e na Travessa de João Galo, nºs 4-4B, foram encontrados materiais atribuíveis aos séculos IV-I a. C., em ambos os casos descontextualizados, no primeiro em resultado de intensos processos de erosão e abarrancamento de vertentes (coluviões), e no segundo, misturados com areias da praia que constituíram a base da sequência estratigráfica. De destacar a presença de cerâmica de mesa afim da de tipo Kuass (Tavares da Silva et al., 2014, Fig. 6, nº13) e de ânforas de tipo Maña-Pascual A4 (grupos 11 e 12 de J. Ramon) 5, e ainda da ânfora atribuível com algumas reservas à forma Dressel 1 (Tavares da Silva & Coelho-Soares, 2014, Fig. 4), que assinala o período romano-republicano, tão bem representado, ao contrário do observado em Setúbal, no vizinho castro de Chibanes (Soares & Tavares da Silva, 2014). 

4 – A resiliência da metrópole de Gadir/Gades foi notável. A partir de meados do século V e durante o século IV a. C., encerrado o ciclo metalúrgico, reorganiza o seu papel como placa giratória do comércio mediterrâneo/atlântico, através do incremento da produção de preparados piscícolas. Tira partido da abundância de peixe nas águas atlânticas, transformando-se no principal abastecedor de salgas de peixe à escala do Mediterrâneo. Nos alvores do século III a. C., liberta-se do “asfixiante” imperialismo cartaginês, colocando-se voluntariamente na dependência de Roma, o que lhe permitiu continuar a exercer a sua influência regional, controlando o comércio atlântico-mediterrâneo. 

5 – A cultura material da Idade do Ferro turdetana (sécs. V/IV-III/II a.C.) inclui entre outras importações, cerâmica de mesa tipo Kuass e ânforas Mañá-Pacual A4 que transportavam salgas de peixe produzidas na baía de Cádiz. Nas condições de jazida aberta de uma praia (Travessa de João Galo) apenas podemos considerar alguns elementos tipologicamente significativos que apontam para uma matriz cultural mediterrânea adentro da II Idade do Ferro.

Introdução. Caetobriga: uma cidade fabril e polinucleada na foz do Sado​

Joaquina Soares - Carlos Tavares da Silva
PT